A Bíblia Hebraica e seu Cânone

 

    Muito bem. A Bíblia estava pronta. Mas que Bíblia? A Bíblia Hebraica. É esta Bíblia que possui trinta e nove livros e hoje nós a conhecemos como o Antigo Testamento. Na Bíblia dos judeus só existe o Antigo Testamento.

    O processo de canonização dos livros sagrados do judaísmo palestinense também tem uma longa trajetória. Pode-se dizer que seguiu basicamente três etapas, seguindo três blocos da Bíblia Hebraica, são eles: Torá = Lei, Nebi’im = profetas e Ketubim = escritos).

    A Torá, isto é, os chamados cinco livros de Moisés (Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio) foram “canonizados” por volta do ano 300 a. C.  Nesta época já eram amplamente aceitos como escritos sagrados/inspirados.

    Logo em seguida, por volta de 250 a. C., surgiu também o “Pentateuco Samaritano”. Os samaritanos, um grupo cismático com sede religiosa em Siquém, somente aceitam os cinco livros da Torá, como sendo inspirados, rejeitando, pois os demais livros do Antigo Testamento. A versão do Pentateuco Samaritano (em língua hebraica) faz algumas mudanças em relação ao Pentateuco Judaico (por exemplo, onde a Bíblia hebraica se fala de Jerusalém como lugar central de culto, o samaritano lê “Gerizim”).

    Na mesma época, isto é, a partir do ano 300 – 250 a. C., estes livros também estavam sendo traduzidos para a língua grega, para o uso dos judeus que viviam na dispersão (diáspora) e falavam a língua grega.

     

    Os profetas (hebraico = nebi’im) na Bíblia hebraica, os “profetas” englobam dois grupos distintos:

 

  1. Os chamados “livros históricos” que vão de Josué à 2º Reis = profetas anteriores.
  2. Os livros proféticos propriamente ditos (exceto Daniel)

 

    Em torno do ano 200 a. C., estes livros já gozavam de ampla aceitação. O livro profético mais tardio é Daniel. Por uma questão de gênero apocalíptico, as ações nele relatadas pretensamente desenrolam-se na época babilônica (século 6 a. C.) Mas, muito provavelmente surgiu por volta do ano 165 a. C. Sua inclusão nesta lista foi objeto de muita discussão.

 

    Os escritos (hebraico = ketubim) primeiramente foram aceito os Salmos.

 

    Em segundo lugar os “cinco rolos” (“megillot”), que constituem a leitura oficial nas grandes festas dos judeus. Ester (festa do Purim), Rute (festa das semanas), Lamentações (memória da destruição de Jerusalém), Eclesiastes (festa dos tabernáculos) e Cantares ou Cântico dos cânticos (8º dia da Páscoa).

      Os livros de Esdras, Neemias e 1º e 2º Crônicas foram aceitos por causa de sua semelhança de gênero e embasamento na Torá.

      O livro de Provérbios foi aceito por causa de sua atribuição a Salomão.

      O Livro de Jó passou grandes discussões até ser aceito.

      Assim surgiu a Bíblia Hebraica contendo 39 livros considerados inspirados.

      Os livros da Bíblia Hebraica foram escritos originalmente na língua hebraica, que era a língua oficial do antigo povo de Judá e Israel.

      Somente alguns capítulos de Daniel (Dn 2.4b – 7.28) e alguns documentos citados no livro de Esdras (Ed 4.8 - 6.18 e 7. 12 ao 26) foram escritos em aramaico. A língua  aramaica é um idioma irmão do hebraico e era a língua administrativa durante o império Persa (538 – 332 a. C.). O aramaico continuou sendo usado como língua comercial e coloquial na Palestina até a época de Cristo.

      O texto da Bíblia hebraica originalmente apresentava somente um texto consonantal, isto é, um texto constituído somente por consoantes. Por volta do século 4 d. C., o texto foi cuidadosamente revisado, recebendo também as vogais, que são chamadas pontuação tiberiense ou massorética. Disto resulta o “texto massorético” (de massorá = tradição), que busca afirmar a leitura correta do texto consonantal.  É o texto que hoje é usado nas sinagogas e nas edições científicas da Bíblia hebraica (Tm = Texto massorético).