Os Movimentos de Pobreza Apostólica

 

Esses movimentos foram a máxima expressão espiritual do amor. Nessa visão, o amor serve mais do que é servido, oferta muito mais do que recebe e, no tocante as riquezas, não concede à vantagem econômica motivo maior do que a responsabilidade com os excluídos. Na verdade, esses movimentos visavam um retorno a forma de se viver o cristianismo como os apóstolos viviam.

 

Diversos foram os grupos que defendiam, pregavam e difundiam essa forma de ser cristão e, dentre eles, destacamos:

 

  • Os Cátaros ou "puros": também conhecidos como albigenses, devido a cidade francesa de Albi, eram um grupo anticlerical que defendia a doutrina do sacerdócio universal dos cristãos. Sofreram severas perseguições.

Por serem anticlericais desafiavam as normas da Igreja Oficial. Temos poucas informações sobre este grupo, pois quando temos um momento onde grupos cristãos e uma igreja são majoritários é muito difícil se controlar as fontes documentais. Portanto, os grupos que não deixaram descendentes perderam sua memória. Devido à falta de registros o trabalho de estudo desses grupos passa a ser feito da ótica dos seus acusadores. A partir daí, buscamos nas entrelinhas das acusações alcançar o imaginário desses grupos.

É importante lembrar que a Igreja Cristã Medieval (ICM) havia estabelecido alguns dogmas que provocavam muitas tensões e dentre eles, podemos citar: a retirada do cálice da Santa Ceia – o calice passou a ser destinado apenas ao oficial do cerimonial e o pão era distribuido para todos. Um outro dogma foi a obrigatoriedade do latim - não se falava mais latim na maior parte dos espaços e as falas eram decoradas e transmitidas sem entendimento.

Os Cátaros foram muito importante nesse período, pois eles além de se indispor com os que estavam no poder eles também priori- zaram a leitura do Novo Testamento na língua do povo.

Os Cátaros começaram a se indispor com isso e a consequência foi a perseguição. Esse grupo chegou a ser maioria no sul da França e para conter o avanço desse grupo e da sua doutrina, a Igreja Oficial lançou mão de dois recursos. O primeiro foi o estabelecimento da inquisição (forma de conduzir as pessoas, principalmente os líderes, para o caminho que a Igreja Oficial entendia como verdadeiro. Para alcançar seu objetivo a Igreja lançava mão até da tortura). O segundo recurso foram as Cruzadas. As Cruzadas já haviam sido usadas contra os árabes e mulçumanos na Palestina e o ideal de cada cavaleiro cruzado era a idéia que permeava todos os ambientes da sociedade. Esse grupo foi um grupo de reação doutrinária, não importando a questão de juízo, que visava conter a promoção e o avanço desses grupos que pregavam a ruptura com a doutrina e os dogmas da Igreja. A punição para esses grupos era a morte.

 

  • Os Arnaldistas: eram discípulos de Arnaldo de Bréscia e contestavam o poder temporal dos papas e as posses da igreja. O líder desse movimento, Arnaldo de Bréscia, foi enforcado em 1155 por Frederico I, o barba-roxa.

O Poder temporal dos papas foi um período dos ditos papais que colocavam os papas acima de todos os homens. A idéia antiga do papa ser o substituto de Pedro é alterada e o papa passa a ser o vigário ou substituto de Cristo. Gregório VII escreveu esses ditos que colocavam o papa com o poder de instituir ou destituir reis, abrir ou fechar dioceses, etc. Esse fortalecimento da figura papal fez com que muitos grupos rejeitassem essa perspectiva da Igreja.

 

  • Os Valdenses: era um grupo que defendia a livre interpretação das Escrituras. Eram chamados de "os pobres de Lyon". Pedro Valdo, foi perseguido pela igreja oficial e morreu em 1217.

Pedro Valdo instituiu uma espécie de ordem de pregadores que eram chamados de “os pobres de Lyon”. Com esse grupo aconteceu uma situação diferente, pois eles tiveram uma continuidade. Essa igreja que nasce em 1180 e atravessa o ano 1200 existe ainda hoje, sendo a sua maior expressão no Uruguai. Os Valdenses três séculos antes de Lutero formaram uma igreja que existe até hoje.

Para refletir...

"Todo movimento que é diferente do oficial não é bem identificado por quem passa a sua volta. A pergunta é: será que grupos como os Cátaros e os Arnaldistas que teoricamente sumiram não se misturaram e foram chamados de Valdenses? Porque de certa forma eles possuíam um inimigo em comum: a Igreja Católica."

 

  • Os Dominicanos: Domingos de Gusmão nasceu em Caragola, Castela, entre 1171 e 1173. Em 1196 tornou-se cônego agostiniano. Impactado pelo ideal de vida dos cátaros e valdenses, formou uma nova ordem de pregadores conhecida como "os Frades Pregadores". Domingos morreu em 1221.

Parece existir um diálogo entre esses movimentos, pois o movimento de pobreza apostólica não é novo. Esse movimento já estava presente no Monasticismo No segundo século já encontramos grupos que buscavam o ideal de uma vida simples e humilde caracterís-tico de uma vida de pobreza. Na Idade Média as pessoas conservavam esse ideal como uma forma de protesto contra a Igreja Oficial e suas ostentações.

 

  • Os Franciscanos: João Bernardone (Francisco de Assis) nasceu entre 1181 e 1182 na cidade de Assis. Entre 1206 e 1207 iniciou sua vida religiosa. Ao encontrar-se com Inocêncio III, em 1210, vê sua ordem conhecida como "os Frdes Menores" aprovada. Francisco de Assis morreu em 1226.

Esse foi um dos movimentos mais emblemáticos. Francisco foi um grande incentivador da Ordem Feminina das Clarissas e da Ordem Terceira formada por leigos que queriam continuar sua vida na cidade, mas com um compromisso com Deus.

 

Pense e responda...

 

"Os movimentos de pobreza apostólica na Idade Média buscavam construir uma nova igreja ou reformá-la sob a ótica neotestamentária?"

 

No próximo encontro falaremos sobre os Pré-Reformadores.